sábado, maio 06, 2006

O garoto do outro lado do mundo e a sua Kalashnikov

Kalashnikov AK-47

Parece que foi ontem, mas já faz muito tempo. Eu devia ter uns 10 anos. Me vejo sentado na mesa da cozinha, olhando hipnotizado para uma foto em uma revista. A foto mostrava um garoto palestino da minha idade segurando uma AK-47 que parecia ter o dobro de sua altura. Uma foto dessas chamaria a atenção de qualquer pessoa, porém no meu caso ela chamou mais ainda. O que me deixou perplexo era o quão parecido comigo esse garoto era. Os traços, cor de pele, cabelo, olhos, etc... Tudo extremamente semelhante. Era tão igual que parecia que eu estava olhando para uma foto minha, e não de outra pessoa. Lá estava eu, na Palestina, em meio aos destroços de uma guerra que nunca acaba segurando uma AK-47 e com uma expressão cheia de ódio.

Eu andei com essa revista para todos os lados, até que acabei perdendo ela. Tenho quase certeza que nunca mais voltarei a ver essa foto, já que não me lembro o número da revista e nem o ano exato. Mas de vez em quando eu me pego pensando naquele garoto lá do outro lado do mundo e em sua Kalashnikov. Tentando imaginar que rumo tomou a sua vida, e se ele ainda é tão parecido comigo. Fico com a impressão que a nossa existência esteve conectada de alguma maneira estranha. Ele encheu a minha alma de questões que até hoje me acompanham: Quem sou eu? O que é um rosto, um corpo? O que faz de mim um individuo único (se é que sou)?

Porém, o garoto não me deixou só com dúvidas. Ele me mostrou uma avassaladora verdade, especialmente para um garoto de 10 anos. Os seus olhos acusadores me diziam: "Poderia ser você aqui no fim do mundo segurando uma Ak-47 e poderia ser eu no conforto de uma casa de classe média olhando para uma foto sua em uma revista!".

Música tema para o post:

Buffalo Springfield - For What is Worth

There's something happening here
What it is ain't exactly clear
There's a man with a gun over there
Telling me I got to beware

I think it's time we stop, children, what's that sound
Everybody look what's going down

There's battle lines being drawn
Nobody's right if everybody's wrong
Young people speaking their minds
Getting so much resistance from behind

I think it's time we stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down

What a field-day for the heat
A thousand people in the street
Singing songs and carrying signs
Mostly say, hooray for our side

It's time we stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down

Paranoia strikes deep
Into your life it will creep
It starts when you're always afraid
You step out of line, the man come and take you away

We better stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down
Stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down
Stop, now, what's that sound
Everybody look what's going down
Stop, children, what's that sound
Everybody look what's going down

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Meu q texto doido! Aconteceu de verdade? MTO FERA

12:42 AM, maio 07, 2006  
Blogger Lara said...

É impressionante como as coisas ficam na nossa mente e nos faz pensar, refletir sobre algo muito maior que nós mesmos.

8:54 PM, maio 10, 2006  
Anonymous Anônimo said...

respondendo a pergunta do seu post do dia 20 de abril...
Eu gosto de ler o q vc escreve.
O seu ceticismo é interessante (acho q cético é a palavra certa)
E tb é intrigante, uma pessoa q vc conhece a tantos anos, mas ao mesmo tempo não conhece nada.
Mas é so isso
E nunca comentei até agora pra não parecer que eu estou perguntando algo do tipo: 'Hey o que vc está fazendo aí? Namorando pela internet?"
rs

tb é um pouco de falta do que fazer... mas soh um pouco

um abraço!

9:34 AM, maio 24, 2006  
Blogger La Maya said...

Funny in a strange way... faz uns 15 minutos que falei dessa música pra alguém... Texto forte, especialmente levando em conta a idade dos protagonistas... viajei nele e fui até Sniper Americano, Chris Kyle apontando a arma para aquela criança e todo aquele dilema atravessando a sua mente, afinal, guerra é guerra. E depois aquele alívio, mas todo o peso que foi se acumulando, acumulando e o transformou profundamente. Guerra em nome de quê? Guerra em nome de quem? Por que uma batalha ganha vale mais do que uma vida tão rara, insubstituível, maior do que ela própria poderia sequer um dia imaginar?

"O senhor da guerra não gosta de crianças..."

7:38 PM, setembro 28, 2017  

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